Após cinco dias de julgamento, TJAM condena primeiros réus do Massacre do Compaj com 56 mortos
14/12/2025
(Foto: Reprodução) Julgamento do Massacre no Compaj: dois réus são julgados no Amazonas
Após cinco dias de julgamento, o Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM), por meio da 2.ª Vara do Tribunal do Júri da Comarca de Manaus, condenou à prisão, em regime fechado, Anderson Silva do Nascimento e Geymison Marques de Oliveira. Eles são os primeiros réus julgados pelos crimes relacionados ao Massacre do Compaj, ocorrido em 1º de janeiro de 2017, no Complexo Penitenciário Anísio Jobim, que resultou na morte de 56 pessoas.
O julgamento, considerado um dos mais longos e complexos já realizados pelo Tribunal do Júri do Amazonas, começou na terça-feira (09) e se estendeu até sábado (13).
O colegiado, composto por três magistrados, presidiu a sessão, que contou com quatro membros do Ministério Público do Amazonas (MPAM) e as defesas técnicas dos réus, dois defensores públicos e um advogado. A sentença completa, com a dosimetria da pena, será publicada nos autos ainda nesta semana.
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Ao final da sessão, o colegiado decretou a prisão de Geymison Marques de Oliveira, que respondia ao processo em liberdade. Anderson Silva do Nascimento já se encontrava preso e participou presencialmente do júri, no Fórum de Justiça Ministro Henoch Reis. Geymison participou por videoconferência, com a defesa justificando a ausência presencial devido a ameaças de morte recebidas.
Os réus foram condenados pelos seguintes crimes: 56 homicídios consumados, um homicídio tentado, 45 vilipêndios de cadáveres, um crime de tortura e por integrar organização criminosa.
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Polícia Civil/Reprodução
Logística e inovação
O júri apresentou características excepcionais devido à dimensão do caso e ao envolvimento de organizações criminosas, exigindo operação logística de grande porte. Mais de 100 profissionais atuaram diretamente no julgamento, incluindo magistrados, promotores, defensores públicos, advogado, oficiais de Justiça, sete jurados e suplentes, além de equipes do Corpo de Bombeiros, Polícia Militar, profissionais de saúde, motoristas e equipes de apoio.
“É um júri com muitas peculiaridades, tanto pela dimensão quanto pela duração. Houve policiamento reforçado, equipe médica de plantão ininterruptamente, bombeiros militares presentes durante todo o período, ambulância à disposição, alimentação, além da logística de hospedagem e isolamento dos jurados, conforme prevê a legislação. Trata-se de um esforço coletivo e de um momento histórico para o Tribunal”, destacou o colegiado.
O julgamento também contou com inovações na quesitação dos crimes imputados, adotadas para garantir racionalidade e evitar desgaste excessivo dos jurados diante do elevado número de vítimas e crimes. Foram usadas placas de sinalização para manifestação das partes, duas urnas de coleta de votos e quesitação parcialmente em bloco, acompanhada pela acusação e defesa.
Série de julgamentos
Este é o primeiro de 22 processos relacionados ao Massacre do Compaj, considerado o segundo maior massacre em presídio do Brasil, em número de vítimas, ficando atrás apenas do episódio do Carandiru. Os processos restantes deverão ser pautados pela 2.ª Vara do Tribunal do Júri ao longo do ano de 2026.
Como ocorreu o massacre
A rebelião, que, ao todo, se estendeu por 17 horas, teve início quando presos da facção Família do Norte (FDN), à época aliado ao Comando Vermelho no Norte, invadiram a ala onde ficavam detentos ligados ao Primeiro Comando da Capital (PCC). O ataque resultou em corpos esquartejados, decapitados e queimados. Antes da rendição, 112 detentos fugiram.
O rompimento da aliança entre CV e PCC, que disputavam o controle do tráfico de drogas no país, na época, foi apontado por especialistas como principal causa do conflito que levou à matança. O então secretário de Segurança, Sérgio Fontes, afirmou que a FDN comandou o ataque e que o motim "não havia sido planejado previamente".
Fontes também disse que havia indícios de ligação entre a rebelião do Compaj e o motim registrado horas antes no Instituto Penal Antônio Trindade (Ipat), de onde 87 presos fugiram. Cerca de 40 detentos das duas unidades foram recapturados.
Dois anos depois, em 2019, o Compaj voltou a registrar violência. Uma nova rebelião deixou 15 mortos. Após o episódio, o Governo do Amazonas decidiu não renovar o contrato com a empresa responsável pela administração do presídio, repassando a gestão a outra terceirizada.
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