'Tentando o tempo inteiro me afastar', diz Wanderlei Barbosa após ser afastado e vice assumir governo
04/09/2025
(Foto: Reprodução) Wanderlei Barbosa divulga vídeo em que afirma ser perseguido
O governador afastado Wanderlei Barbosa (Republicanos) publicou um vídeo nas redes sociais onde afirma sofrer perseguição política por parte do governador em exercício, Laurez Moreira (PSD).
"Eu ganhei as eleições passadas com quase 500 mil votos e, para isso, derrotei pessoas que não aceitaram e se juntaram ao vice-governador Laurez. Durante todo esse tempo eu sofri muito, por isso houve o meu afastamento do Laurez, porque eu sabia o que ele estava fazendo. Eu tinha informações diárias dele em Brasília, tentando o tempo inteiro me afastar do mandato", comentou Wanderlei.
Em resposta a Wanderlei, Laurez disse em coletiva de imprensa, após assumir o governo, que a afirmação se trata de um desrespeito.
"São dois assuntos que eu não tenho nada a falar. O afastamento dele é questão da Justiça, e é um problema que tem que resolver com a Justiça, não comigo, né? Quem sou eu para tramar contra alguém ou fazer alguma coisa. Ele tem que responder pelos atos que praticou", comentou.
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Wanderlei Barbosa e a primeira-dama Karynne Sotero Campos foram afastados pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) na segunda fase da Operação Fames-19, investiga um suposto esquema de desvio de recursos públicos na compra de cestas básicas no Tocantins, durante a pandemia de Covid-19. Esse esquema, segundo investigação da Polícia Federal, envolvia um núcleo composto por servidores, políticos do alto escalão e empresários (confira mais detalhes abaixo).
Sobre o afastamento, o governador afirmou, em nota, que recebe a decisão com respeito às instituições, mas se trata de uma "medida precipitada". Também afirmou que determinou auditoria nos contratos e acionará os meios jurídicos necessários para reassumir o cargo. A primeira-dama informou que vai "comprovar total ausência de participação nos fatos" (veja as notas abaixo).
A operação foi realizada nesta quarta-feira (3) pela Polícia Federal. Mais de 200 policiais cumpriram 51 mandados de busca e apreensão e outras medidas cautelares no Tocantins, Paraíba, Maranhão e Distrito Federal. O governador e primeira-dama ficarão afastado pelo prazo de 180 dias, segundo decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
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Wanderlei Barbosa (Republicanos) e Laurez Moreira (PSD) durante cerimônia de posse, em 2023.
Divulgação/Governo do Tocantins
Entenda as investigações
A Polícia Federal recebeu as informações do suposto esquema durante a gestão do ex-governador Mauro Carlesse. Na época, Wanderlei Barbosa era vice-governador e ficou com a atribuição de cuidar da Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (Setas), por conta de arranjos políticos, segundo a decisão.
A defesa de Carlesse informou que o ex-governador não é investigado, réu ou alvo da operação e que, durante seu mandato, "inexistiu qualquer ato ou decisão de sua responsabilidade relacionado aos fatos apurados" (veja nota completa abaixo).
Investigações identificaram que a maior parte das verbas, relacionadas ao enfrentamento das consequências da Covid-19, foi direcionada para a Setas entre os anos de 2020 e 2021. Na época, foram contratadas várias empresas. Algumas haviam sido abertas pouco tempo antes das contratações e elas não tinham objetivo social de fornecimento de alimentos. Os pagamentos teriam continuado após Wanderlei assumir o cargo.
"O esquema consistiu na contratação de um grupo de empresas previamente selecionadas, muitas delas constituídas há pouquíssimo tempo, ou com objeto social distinto do fornecimento de alimentos, as quais, receberiam a totalidade do valor contratado, sempre em somas de grande vulto, entregando, em contrapartida, apenas parte do quantitativo estipulado, tendo havido a inexecução parcial ou até mesmo integral dos contratos de fornecimento", diz a decisão do STJ.
Conforme a polícia, o esquema passava por várias pessoas que ficavam responsáveis por diferentes tarefas para dar andamento às contratações e desvios.
A Polícia Federal investiga os crimes de frustração ao caráter competitivo de licitação, peculato, corrupção passiva, lavagem de capitais e formação de organização criminosa. Conforme é apurado na Operação Fames-19, foram pagos mais de R$ 97 milhões em contratos para fornecimento de cestas básicas e frangos congelados. O prejuízo aos cofres públicos é estimado em mais de R$ 73 milhões.
Operação Fames-19
Esta é a 2ª fase da Operação Fames-19, que busca reunir novos elementos sobre o uso de emendas parlamentares e o recebimento de vantagens indevidas por agentes públicos e políticos com a compra de cestas básicas durante a pandemia de Covid-19.
Conforme a PF, as investigações apontam fortes indícios de um esquema de desvio de recursos públicos em 2020 e 2021. Nesse período, os investigados teriam se aproveitado do estado de emergência em saúde pública e assistência social para fraudar contratos de fornecimento de cestas básicas.
Em agosto de 2024, Wanderlei Barbosa e a esposa foram alvos de busca na primeira fase da operação. Nessa fase, políticos e empresários estavam entre os alvos. Durante o cumprimento das buscas na casa e no gabinete de Wanderlei, os policiais federais encontraram R$ 67,7 mil em espécie, além quantias em dólares e euros.
Segundo a investigação, os valores desviados teriam sido ocultados por meio da construção de empreendimentos de luxo, compra de gado e pagamento de despesas pessoais dos envolvidos.
Íntegras das notas das defesas
Nota da Secretaria Estadual do Trabalho e Desenvolvimento Social (Setas)
A Secretaria Estadual do Trabalho e Desenvolvimento Social (Setas) informa que tem colaborado com as investigações e encaminhado informações aos órgãos de controle internos e externos para instruir as tomadas de contas que foram instauradas. A Setas reforça seu compromisso em colaborar com as autoridades competentes.
Nota defesa Rérison Castro
Ele não foi alvo da operação. Não temos acesso ao IPL, à representação e à decisão que determinou as medidas cautelares. Certo que o Rérison não é servidor do Estado e não tem nenhuma vinculação com os crimes investigados.
Nota Mauro Carlesse
A defesa do ex-governador Mauro Carlesse lamenta os recentes acontecimentos envolvendo o Estado do Tocantins e esclarece que, durante todo o período em que Mauro Carlesse exerceu o mandato, inexistiu qualquer ato ou decisão de sua responsabilidade relacionado aos fatos apurados.
Ressalta, ainda, que o ex-governador não figura como investigado, réu ou alvo de quaisquer medidas decorrentes da operação, não havendo, portanto, qualquer imputação contra sua pessoa.
Por fim, a defesa reafirma sua confiança nas instituições e no pleno esclarecimento dos fatos, convicta de que a apuração confirmará a total ausência de envolvimento de Mauro Carlesse com os acontecimentos sob investigação.
Nota de Karynne Sotero
Reitero meu respeito à decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e às instituições, ressaltando que irei dedicar-me plenamente à minha defesa, convicta de que conseguirei comprovar minha total ausência de participação nos fatos que estão sendo apontados.
Desejo que tudo seja esclarecido e reestabelecido com brevidade e justiça, pelo bem do povo tocantinense, a quem dedico meu trabalho e compromisso.
Nota de Wanderlei Barbosa
Recebo a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) com respeito às instituições, mas registro que se trata de medida precipitada, adotada quando as apurações da Operação Fames-19 ainda estão em andamento, sem conclusão definitiva sobre qualquer responsabilidade da minha parte. É importante ressaltar que o pagamento das cestas básicas, objeto da investigação, ocorreu entre 2020 e 2021, ainda na gestão anterior, quando eu exercia o cargo de vice-governador e não era ordenador de despesa.
Reforço que, por minha determinação, a Procuradoria-Geral do Estado (PGE) e a Controladoria-Geral do Estado (CGE) instauraram auditoria sobre os contratos mencionados e encaminharam integralmente as informações às autoridades competentes.
Além dessa providência já em curso, acionarei os meios jurídicos necessários para reassumir o cargo de Governador do Tocantins, comprovar a legalidade dos meus atos e enfrentar essa injustiça, assegurando a estabilidade do Estado e a continuidade dos serviços à população.
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